As crises fazem parte da vida. São elas que nos fazem crescer quando aprendemos com o que foi posto diante de nós. Evitá-las seria o mesmo que evitar a própria vida. Existem crises naturais, circunstanciais, previsíveis e imprevisíveis. Todas elas podem nos alcançar e alcançar também nossa família.
As famílias cujas histórias estão registradas nas Escrituras são a prova de que ninguém está livre delas. No entanto, à medida que observamos modelos de comportamentos e de estruturas familiares, podemos evitar que as consequências, enquanto resultado das crises, sejam tão devastadoras quanto as vezes são. Um bom exemplo nesse sentido é a crise vivida pelo primeiro casal da história da humanidade: Adão e Eva. A narrativa de Gênesis 3, de 1 a 6, nos revela a dinâmica da crise desse casal e, a partir do verso 7, todas as suas consequências. Nessa dinâmica, a crise do primeiro casal começa quando ambos estão sós. A tentação não chegou para o casal, mas para a mulher que se encontrava desacompanhada naquele momento. Independente do gênero, se homem ou mulher, parceiros solitários são sempre mais vulneráveis às propostas do mundo em que vivemos. Pessoas sozinhas correm mais riscos do que quando acompanhadas.
Na dinâmica da crise do primeiro casal, a mulher deu ouvido às vozes estranhas àquele ambiente familiar. Ela percebeu que era uma voz diferente das que já conhecia, mas decidiu ouvir. Ainda é assim nos dias de hoje, quando tantas vozes sedutoras – mesmo que estranhas – são sussurradas aos nossos ouvidos querendo ganhar a nossa atenção. A crise do primeiro casal se agrava quando a mulher decide sozinha em ceder a tentação e aceitar a proposta feita. Em uma relação conjugal, a decisão nunca pode ser unilateral. É preciso conversa, diálogo, ponderações, argumentos e refutações, até que ambos decidam juntos. Quando um decide por si só, indiretamente ele está dizendo que o outro já não existe para esta relação.
Por último, para que a crise do primeiro casal seja plenamente instalada, a razão dá lugar à sensação e dirige todos os passos dai por diante. O que foi oferecido era bom para o paladar, agradável para os olhos e desejável para o ego. Quando privilegiamos o sentir em detrimento ao pensar, corremos o risco de atendermos aos nossos desejos sem avaliar os riscos que corremos. A dinâmica da crise do primeiro casal é assim: uma pessoa sozinha, ouvindo vozes estranhas, tomando decisões sem consultar o outro e tentando atender aos seus desejos. Pronto! O paraíso termina aí e, então, começa o inferno.
Mesmo sabendo que elas são inevitáveis e que, de alguma forma, teremos que enfrenta-las, é possível minimizar as consequências de uma crise familiar quando impedimos que ela avance. Como podemos fazer isso? Buscando a companhia do outro ao invés de cultivar a solidão. Discernindo e tapando os ouvidos às vozes que vêm de fora de nosso lar. Compartilhando projetos e decidindo juntos. Entendendo que não podemos ser movidos somente ou prioritariamente por nossos sentimentos e desejos. É preciso pensar. Agindo assim, talvez estejamos mais preparados para quando as crises chegarem. Que o Senhor nos dê sempre da sua graça diante desses momentos.
Com amor,
Pastor Carlos Henrique.